quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Política e Seus Melindres

Da mesma forma que fiz, há quatro anos, no dia três de Janeiro, faço hoje a mesma pergunta: Quantas pessoas com deficiências foram nomeadas Ministros ou Secretários de Estado no Brasil? Mesmo porque, algumas delas, com certeza, contribuíram de maneira definitiva para a construção do Bolo chamado Poder. Aliás, quando se trata de pessoas com deficiência, nem mesmo José Serra que tanto usou as APAES e alardeou a criação do Ministério da pessoa com deficiência, durante a sua campanha eleitoral, não colocou uma pessoa com deficiência para dirigir a Secretaria que ele criou em SP, voltada para esta causa.

É claro que não estamos aqui, desmerecendo as excelentes qualidades da Secretária da pessoa com deficiência do Governo Serra, entretanto, com certeza, há pessoas com deficiência em SP, tão qualificadas quanto ela, mas que não foram “localizadas” para ser contemplada para exercer o cargo. Não sei precisar se em algum Estado brasileiro foi nomeado algum Secretário com deficiência, mas sei que, nem no Planalto nem no Buriti, isso aconteceu.

Vale salientar que promover pessoas com deficiência, tem sido, ao longo dos tempos, algo sempre complexo e, isso nos faz lembrar de uma pesquisa da Universidade Federal de SP publicada no Estadão, no ano passado, que revela que 96% das pessoas que trabalham com deficientes, tem algum tipo de preconceito contra estes, sendo isto comprovado no DF, em 1999, quando uma professora com deficiência tentou ocupar a Direção do Ensino Especial da SEEDF e teve que se contentar com o cargo de vice-diretora porque não acreditaram que ela teria capacidade para ocupar o referido cargo.

É aquela velha história, o professor que trabalha em escolas públicas, nunca deixa seus filhos estudarem em escolas públicas, os médicos que trabalham em hospitais públicos, não permitem que seus familiares sejam atendidos em hospitais públicos; da mesma forma, há professores que trabalham em Centros de Ensino Especial, que não aceitam ser comandados por professores com deficiência. Com certeza, falta a estes profissionais, a devida qualificação de militância na causa, ou têm eles, medo de ver as pessoas com deficiência como seus concorrentes.

A propósito de ajudar a construir o Bolo, cabe aqui, uma reflexão interessante.

Cerca de 95% dos candidatos às eleições proporcionais, são na verdade, candidatos bucha de canhão: a grande maioria, por pleno despreparo, outros por ingenuidade, outros pela condição desgraçada na qual são jogados à própria sorte pelas cúpulas partidárias inescrupulosas, dentro da campanha. Sob este ponto de vista, o certo é que apenas 5% dos candidatos às eleições entram no jogo e, a grande maioria destes, conquista o sucesso às custas dos balcões de negócios, tendo como claro objetivo, o trabalho infalível em prol da despolitização da própria Política.

Enquanto que, durante o processo de escolhas de candidaturas as cúpulas partidárias jogam todo o charme para mostrar que os escolhidos se tornarão verdadeiros agraciados "ungidos por Deus", na verdade, por trás, já sabem quem serão os eleitos.

E, o que é pior, mesmo sendo expostos a todos os tipos de gastos e desgastes durante uma campanha eleitoral, a grande maioria dos candidatos bucha de canhão, na hora da distribuição do Bolo, tornam-se anônimos ou completos desconhecidos, em prol da projeção de ilustres fantasmas emergentes na ceara política, tendo que se sujeitar à "boa vontade" dos "benevolentes" membros das cúpulas partidárias, porque as "indicações" são feitas "em nome" dos partidos, como se Partidos Políticos não fossem meros cartórios e cada qual, com o seu respectivo dono.

Pior do que dar um cargo para cada um dos candidatos bucha de canhão que participaram exaustivamente do processo eleitoral, é colocar na mão de cada parlamentar apoiador, quinhentos cargos em Secretarias, Empresas Estatais e Administrações regionais, conforme faziam os governadores anteriores do Distrito Federal.

Não podemos deixar de lembrar o fato de que em matéria de eleições proporcionais, dificilmente algum deputado consegue se eleger sozinho, por isso, a importância da indispensável participação dos candidatos bucha de canhão que, precisam ser mais valorizados e não jogados para escanteio pelos parlamentares eleitos. Eleição esta, conseguida às custas do sacrifício destes desgraçados menos votados que, com o seu sacrifício, ajudaram a eleger a maioria dos supostos vitoriosos.

Em nome de todos os candidatos bucha de canhão, esperamos que o Governador Agnelo reconheça o nosso trabalho e não repita os modelos de governos anteriores do DF, pois, a concepção de cargo comissionado baseia-se nos prerrequisitos que envolvem qualificações que credenciem confiança mútua, ou seja: cargo de chefia, mas aqui em Brasília, cargo comissionado é a forma mais execrável de contratação de cabos eleitorais, pagos pelo Estado, no período entre uma eleição e outra. Infelizmente.


Atenciosamente.

Antônio Leitão
O cego de visão