Isto nos lembra a antiga Grécia, quando as pessoas livres se reuniam na Ágora, para discutir os destinos da sociedade como um todo. É a Polis-= Cidade. Até a pouco tempo, prostituta, em alguns lugares daqui, significava mulher pública. Como se vê, por aqui, sempre que há indícios de que algo pertence a muitos ou a todos, logo adquire um significado pejorativo.
Enquanto na China, quando alguém divide um problema entre um maior número de amigos, tanto mais leve se torna o incômodo individual. Por aqui, o segredo é a alma do negócio. Aqui, confunde-se ambiente
privativo com esconderijo; transparência com escândalo.
Enfim, aqui a coisa pública a ninguém pertence; por isso, cada um pode pôr a mão em proveito próprio. Daí, a razão explícita da administração caseira onde, um carro oficial pode ser usado para transportar os filhos de qualquer administrador público sem sofrer nenhuma sensura e, aquele que fizer qualquer crítica sobre isso, não passa de um grande invejoso.
Por aqui, é mais cômodo hostilizar a Política do que desprezar os maus políticos.
Com este preâmbulo, quero contar uma História.
Outro dia, ao ver uma pessoa demonstrando extremo entusiasmo pela causa dos deficientes visuais, abordei-a para pedir apoio para a minha futura candidatura e fui rechaçado com a seguinte frase: "tudo, menos política".
É claro que esta pessoa não seria obrigada a atender de pronto, ao meu apelo. Entretanto, se ela dissesse que já tinha assumido algum compromisso com alguém, eu entenderia, mas, dizer não, apenas por se tratar de uma proposta política que poderá levar uma pessoa com deficiência ao empoderamento e à verdadeira inserção social? Com certeza, há algo de podre no reino da consciência coletiva brasileira.
Só a partir daí, pude tomar consciência de que a política brasileira está, de
propósito, sendo despolitizada, porque o que interessa à maioria das
pessoas que está almejando a algum cargo público, o está fazendo não
para fazer política, mas porque tudo o que este indivíduo quer é o Poder
pelo Poder, aqui e agora. Ou seja, ele não está com a sua atenção voltada para
o bem-estar de todos, mas, para saber quantas pessoas vai empregar, caso ganhe a próxima eleição.
A ojeriza à Política e não aos políticos ruins esconde, na verdade, a falta de coragem de uma sociedade que se recusa a colocar o dedo numa ferida que, caso exposta, removeria do poder, a grande maioria dos
corruptos coptadores da ambição ingênua daqueles que querem crescer através da lei do menor esforço, por isso, nunca crescerão, ficando à mercê das migalhas que caem dos arremedos de supostas Políticas públicas produzidas pelos gananciosos donatários do Poder público no Brasil.
Não é a Política que é a verdadeira representante das sugeiras do Brasil. A sugeira do Brasil está nos mecanismos inescrupulosos com que os contendores em geral, usam para vencer a qualquer preço, a qualquer competição que possa participar. Isto vai desde uma mera disputa dentro do ceio familiar, passando por prefeituras de bairros, igrejas, associações, sindicatos, escolas, hospitais, empresas em geral, até chegar aos cargos estatais.
Portanto, quando dizemos que a sugeira está na Política e não nos políticos ruins, é porque nos recusamos a reconhecer e a curar as nossas próprias feridas. E em assim fazendo, estamos jogando fora a grande oportunidade de cortar o mal pela raiz e, ao mesmo tempo, estamos dizendo não à renovação dos atores que ocupam o Poder Público.
Então, a partir deste posicionamento, condenamos a todos a permanecer num lamaçal que, na verdade, nada tem de terapêutico porque não incomoda a ninguém, a não ser, através dos discursos públicos. Por tudo isso, já passa da hora de começarmos com a máxima urgência, a repolitização da Política brasileira. Do contrário, estaremos fadados a um eterno abismo sem fundo como eternos expectadores de uma esperança em um futuro inalcansável, não porque não seja possível; mas porque somos passivos, inertes e incapazes de assumirmos qualquer responsabilidade neste sentido.
Só se pode mudar uma casa, quando os seus respectivos donos tomam alguma iniciativa com este intuito, ou melhor, nada começa sem que haja um ponto de partida, como pressuposto fundamental de qualquer construção. E no País do engodo e do agrado, onde ninguém tem coragem de se expôr pra não mostrar a cara nem a cor, não existe atitude firme, mas, afagos frios, calculistas e covardes com o claro intuito de
fazer preservar o "Deixa estar como está, para vê como é que fica".
Devemos ter muito cuidado com as afirmações de que o Poder é constituído por Deus e nisso justificar o fato de não querermos ir contra as más autoridades políticas que não atendem às necessidades do povo, mas se esbaldam no poder, às custas da miséria das massas.
Nós vivemos na terra e, aqui quem decide em quem votar é o homem, mesmo quando influenciado por supostos intermediários de Deus.
Nós vivemos na terra e, aqui quem decide em quem votar é o homem, mesmo quando influenciado por supostos intermediários de Deus.
Antônio Leitão
O cego de visão.